quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

FoWL- chegou a rede do wikileaks





Segue abaixo minha tradução do artigo do Der Spiegel

Hamburgo- Wikileaks batalha em vários fronts nestes dias. Em Londres o seu fundador, Julian Assange se protege contra sua extradição para a Suécia, que aliás nada tem a ver com revelações, mas com a acusação de abuso sexual. Em Fort Meade, Maryland, acontece desde sábado a audiência na qual deverá ser decidido se Bradley Manning, supostamente a fonte de grandes revelações da inteligência secreta estadunidense, será julgado em um tribunal de guerra. Já há algum tempo wikileaks está com falta de dinheiro e uma nova forma segura de angariar fundos para novos vazamentos ainda não está encaminhada. Os “spy flies” recentemente divulgados sobre as práticas e produtos do ramo da segurança internacional são antes um dossiê do que revelações em sentido estrito.

Um pouco mais de apoio cairia bem. De fato existem muitas pessoas ao redor do mundo que nutrem simpatia pelo wikileaks. Wikileaks quer agora conectar a sua base, com uma rede social. “Friends of Wikileaks” é o nome dado à rede, abreviada por FoWL. De seu manifesto de fundação:”Desde a sua criação, muitos grupos de apoio tem surgido. Elas se formaram sem interconexão global e apenas uma pequena fração das pessoas que apoiam o wikileaks acharam um caminho para defendê-lo de forma pragmática. FoWL vai conectar estas pessoas para que surjam sinergias e que possamos trabalhar juntos de forma produtiva e eficiente.”

Também entra aí a questão do financiamento. Quem se registra já é logo instado a doar e também a participar da organização de manifestações ou de tarefas públicas. Cada simpatizante que se junta à rede deve ser conectado a seis outros ao redor do globo com os quais pode se comunicar. Já no registro o usuário indica quais línguas ele fala. Estes círculos de doze simpatizantes são pensados para resultar numa estrutura estável de células de apoiadores.

A princípio é possível registrar-se e não fazer nada além disto. Então se é avisado quando há mais registros, para que possam ser distribuídos amigos; é o que se lê quando do procedimento de registro. A saudação desta rede por enquanto apenas virtual termina com as seguintes palavras: “com um cordial abraço, Julian Assange”. Não está parecendo que o fundador da plataforma queira abdicar de seu papel no wikileaks por causa de problemas jurídicos. 

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Feira Preta, a imigração e a escravidão

Neste final de semana acontecerá a décima edição da Feira Preta no centro de exposições Imigrantes na capital paulista. Pela divulgação do evento a princípio os idealizadores tem um viés bem comercial: dá para fazer dinheiro se direcionando à "nova classe média", ou seja, a classe C, que segundo Marcio Pochmann, presidente do IPEA, é apenas um segmento de novos empregados do setor de serviços, e não é como a clássica e ainda atual classe média, composta por dentistas, advogados, professores universitários, etc., majoritariamente branca em um país de mulatos e mestiços. 
Apesar de não ser o ideal, acredito que o viés comercial não deva ser alvo de críticas. Interessante a coincidência de o evento ser sediado no centro de exposições imigrantes, porque insere a população negra e afrodescendente no contexto dos imigrantes. A história da escravidão, que trouxe negros das mais diversas etnias para cá nunca será igual a da imigração de gente que já veio com uma nacionalidade definida quando a África ainda era uma grande possessão europeia dividida em colônias. As condições de inserção de africanos e europeus no Brasil é tão diferente que é difícil achar um patamar comum para igualar ambos. 
Embora muitos imigrantes tenham vindo para substituir a mão-de-obra escrava nos cafezais do Brasil, como foi o caso de suíços, italianos e japoneses, e com isto provaram o gostinho do que é a herança escravocrata, de violência e coisificação, em geral as condições de inserção possibilitaram a ascensão social, se não de todo o grupo, mas de parte substancial dele. É por isso que a classe média hoje é tão italiana, espanhola e japonesa em São Paulo, e tão alemã também no Sul do Brasil. 
Não quer dizer que estas pessoas tenham tido trajetórias fáceis de ascensão. Havia, claro, os que já chagavam com uma profissão demandada por um país de capitalismo nascente, e que portanto obtiveram refúgio no Brasil para continuar a ocupar a classe média ainda que em outro continente. E houve também aqueles que amargaram perdas humanas, morreram estupidamente de doenças tropicais antes não conhecidas trabalhando numa lavoura de patrões ex-escravocratas ou em condições pré-capitalistas. Teve gente que, antes de se inserir ou reinserir regrediu de posição: conhecia da Europa água encanada, luz elétrica e educação e teve de aprender por um período a viver sem tudo isto que já parecia certo. 


Quanto aos escravos, em geral não foram utilizados nas mesmas fazendas que se tornaram capitalistas, empregando a mão-de-obra imigrante. Dispersaram-se, portanto, vivendo em grande parte à margem do Estado e do mercado. E a este vieram a se incorporar muito depois, como último recurso do exército industrial de reserva. 
Diferente dos imigrantes, suas referências culturais sofreram uma grandíssima pressão. A cultura negra brasileira e americana é uma miscelânea daquilo que cada contingente com sua origem própria trouxe. As rupturas já radicais que os imigrantes sofreram, foram muito mais radicais para os negros. As agressões, privações e autoritarismos que os imigrantes sofreram foram muito mais radicais para os escravos. 

O pintor Portinari, branco,
representa os negros em suas obras
Durante as décadas passadas, eram muito comuns os festivais de imigrantes onde sua presença era maciça, como em São Paulo e no Sul do Brasil. Em Curitiba encontravam-se todos, onde exibiam danças, culinária e outras atrações consideradas típicas. Os negros estavam excluídos destas apresentações. Afinal, não havia a percepção de que o negro tinha algo positivo a mostrar ou do que se orgulhar, nem a que fazer referência. A cultura negra esteve sempre subalterna. 

Iniciativas como as várias semanas da consciência negra, de politização da questão racial ainda tão presente no Brasil, são fundamentais. Mas eventos mais mercadológicos contribuem no sentido de tirar a cultura negra do gueto nos termos da nossa sociedade atual, que funciona em grande parte mercado- logicamente. 

A experiência histórica de imigração e escravidão nunca será igual. Não é possível mexer no passado. Mas é possível criar uma base comum de trocas e reconhecimento do valor negro para a constituição a unicidade do Brasil e de cada um dos nossos rincões. Festivais negros, aconteçam, cresçam e atraiam gente de todo tipo. Um passo para consertar um pouco o desnivelamento histórico e reconhecimento atual das experiências de imigração e escravidão. 

Poderá também gostar de: O reitor e os quilombolas 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

o Gato do Rabino

LE CHAT DU RABBIN



O Gato do Rabino, que ainda não saiu no Brasil, já virou filme na França. Neste ritmo, o filme sai aqui antes dos deliciosos quadrinhos de Joan Sfar. 
O gato do rabino, que não tem nome além deste mesmo, comeu o papagaio de seus donos e com isto passou a papagaiar, digo, a falar. O gato falante nasce muito humanamente: cheio de certezas para cima do bom rabino de uma aldeia no Magreb. 
Embora a tônica não seja sempre esta, as aventuras do gato discutem com leveza questões de crença, fé, ceticismo e religião. Até onde eu conheço, algo inédito na linguagem dos quadrinhos. E, sinceramente? O melhor jeito que tenho encontrado de discussão para estes assuntos, onde não faltam gatos convencidos. O gato do rabino vive em meio aos dilemas da fé e do ceticismo, com os altos de baixos de cada um. Quando tiver a oportunidade, leia. Quando tivermos a oportunidade, vejamos o filme, para comprovar se é tão bom quanto os quadrinhos nos quais se baseia. É nada menos o que se espera do Joan Sfar, um expoente da sua geração. 




O filme versa justamente sobre o único tomo que me falta na coleção ainda
 "Jerusalem d'Afrique". Abaixo o trailer. 


terça-feira, 22 de novembro de 2011

amigo secreto e o ato de presentear




Para o espanto de muitos e a indignação de outros, as ruas e lojas já se vestiram com as roupas de inverno do nosso natal importado. Tempo de amigo secreto também. Considero o amigo secreto um mecanismo engenhoso, dado que dispensa as pessoas de terem de presentear a todos, ou a deixar alguns de fora, o que deixa a todos entre grandes despesas e grandes constrangimentos. Também engenhoso o elemento da surpresa, quando não há trapaças, claro.
Só não entendo o amigo secreto que vem com a lista de "sugestões" de presente, segundo o presenteado. A lista de sugestões nos salva de micos, claro. De presentes totalmente despropositados. Mas livra também da surpresa e abole o interessante jogo que é presentear e ser presenteado justamente por aquele elemento da família/ amigos com o qual menos se tem afinidades. A lista de presentes é praticamente tão chata e antissocial quanto ir ao shopping sozinho se comprar o tal do objeto almejado.


Com efeitos colaterais na minha opinião piores do que as dores que pretende curar, a lista de sugestões nos lembra de que presentear é um dom. Como todo dom, ele está distribuído de forma completamente disforme sobre o globo. Uns demonstram extrema habilidade, enquanto outros...



Em geral presenteamos a partir das ideias pré-concebidas que temos dos outros. Fulano é esportista (penso), portanto (penso) ele irá gostar de uma jabulani (penso). Cicrana é perua (penso), portanto (penso), irá gostar de uma bolsa de oncinha. Ela gosta de ler (penso), portanto (penso), ela gostará de um livro. Há atletas que detestam futebol e peruas que talvez dispensem uma bolsa de oncinha (talvez por já ter várias, rs). E há pessoas, como muá, que gostam de ler e também de selecionar bem o que leem...

O fato é que em termos de presentificação é muito comum chutar a bola para fora do estádio. O preço médio que estamos dispostos a pagar piora um pouco nossas chances de ao menos chutar na trave. Mesmo assim, sou a favor de insistir na presentificação que insiste em treinar, desafiar esta habilidade de presentear nas pessoas. Acho que isto nos traz mais para perto das discrepâncias de percepção que existem em nosso meio. E é claro, uma chance em cem, de alguém que nos conheça melhor do que nós mesmos, que nos desafie com algo que não sabíamos de que poderíamos gostar.


Tenho uma política pessoal de presentear. Cumpro com minhas obrigações rituais de final de ano, com boa vontade, mas no resto do tempo não presenteio - nem para aniversário, dias dos pais, etc. (Ensinaram-me quando criança que isto era consumista, e eu acreditei.) 
A não ser que... eu encontre algo que me lembre certa pessoa. Aí, totalmente fora de época, eu lhe dou o dito objeto, por mais simples que seja. Tudo bem, eu poderia esperar as datas festivas, mas com isto um pouco da espontaneidade daquele ato se iria. 

Esta postagem foi bem dentro do paradigma consumista. Mas pretendo escrever uma que mexa mais com isto. Se bem que a espontaneidade do ato de presentear, nem mastercard não paga.

Poderá também gostar desta outra postagem, sobre dia das crianças

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A feiura das línguas e o habitus autoritário

Trabalhando há alguns anos com a língua alemã, percebo que há bastante gente que já chega para ter aula influenciada pela imagem da nova Alemanha, que o Estado alemão procura tanto, e inclusive com bons meios financeiros, incutir aos seus cidadãos e transmitir ao mundo. 
Mesmo assim, sempre aparecem também alunos - de idades variadas - com aquela ideia da velha Alemanha, principalmente a velha Alemanha do nacional-socialismo, na maior parte das vezes mediada por Hollywood. 

Alemão seria uma língua agressiva e feia, dizem muitos - outros apenas pensam. 




Se, em primeira linha, o vídeo acima serve como exemplo de língua alemã, então só posso concordar: o discurso deste homem é feio, grosseiro e agressivo.
(Observação: há um forte ruído do microfone nesta transmissão, o som não está límpido.)
Agora, português parece uma língua cantada, afável,doce e lírica na voz desta homem?
Reparem no final. 



         Habitus fascista pode existir em qualquer língua. O amor e o lirismo podem ser cantados em qualquer língua. Conservemos a beleza de nossa língua. Exploremos sua potencialidade, diminuamos os ímpetos autoritários e fascistas que se apossam dela. 

sábado, 12 de novembro de 2011

O reitor e os quilombolas

        Estive nesta semana na XXVIII Semana de História da Unesp, no campus de Assis. Cheguei meio atordoada da viagem na quarta-feira, mas ainda a tempo de ver a fala do Prof. Oseias Oliveira da Unicentro - Universidade do Centro-Oeste-, que tem prédios em Irati, Guarapuava e mais 4 campi avançados, no Paraná. O tema de Oseias era a festa de São Gonçalo, uma prática que os quilombolas deixaram por uma época, e retomaram depois quando conseguiram se re-estabelecer no meio rural.   
         Interessante mesmo foi a contextualização das comunidades quilombolas em meio à "macha branca", uma série de colônias ucranianas, polonesas, alemãs, italianas, etc. O interesse do professor surgiu por meio de uma aluna quilombola em seu curso, a única negra da faculdade. (Isto me lembra minha infância, onde em um colégio de 3 mil alunos havia apenas 1 aluno negro, que naturalmente destoava muito do resto).
        A presença desta única aluna mobilizou professores de diversas áreas da universidade para formar um cursinho para os quilombolas próximos ao campus. É um privilégio para eles terem professores da universidade já durante a preparação para a mesma. O detalhe bonito e significativo é que o reitor, Vitor Hugo Zanetti, também entendeu a importância do projeto, e dá aulas de matemática aos sábados na comunidade. 
     
           Existe um lugar neste país onde um reitor doa seus sábados para dar aula gratuitamente aos quilombolas. Tem iniciativas que me deixam simplesmente enternecida. Em breve aquela uma aluna não estará mais só, e haverá muitos outros como ela.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

il vero universal e o selo de qualidade feminista

Como bem sabemos, quando o "cidadão brasileiro de bem" - sabe aquele que supostamente paga os impostos, que troca de carro regularmente e vai lustrar sua cultura nos EUA ou na melhor das hipóteses em Paris- aparece na capa da revista VEJA, ele é um homem branco. Para a VEJA que universal e masculino se confundam é um óbvio ululante.

Isto é tão banal e repetitivo que seria um saco demonstrar.
Vale a pena, no entanto, estar atento a iniciativas ainda isoladas que trazem mulhees como possíveis universais, sem que isto evoque o seu sexo. Universal sem sexualização, é o que vemos abaixo, quando o cartunista Carlos Latuff desenha umA estudante como representante d@s estudantes que ocuparam a reitoria da USP.

Esta é fresquinha, saída do forno hoje


Esta é de fevereiro de 2011





Neste contexto árabe que o nome Latuff evoca, lembrei-me de outra situação que merece menção honrosa. Isto foi lá no começo da Primavera Árabe, e a Carta Capital nos apareceu com esta mulher à esquerda. Além de sublinhar o novo ou renovado protagonismo feminino no Oriente Médio, a revista apresentou uma mulher como representante 
"d@ manifestante da praça Tahrir".





                                                    Qual é o verdadeiro universal?


É quando um representante da espécie humana - para qualquer fim: científico, jornalístico, estatístico-  puder ser uma mulher, negra e idosa, e ela ser reconhecida como tal. 
É quando além de representar o universal, o homem branco, heterossexual também seja visto também como algo particular. 
Por seus méritos, selo de qualidade feminista a ambos, Carlos Latuff e Carta Capital.  

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Tempo e história

Tristes daqueles que temos história.
Buscamos por aquilo que apenas os outros deveras têm.
Pois viver o tempo presente é viver o tempo eterno.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Semana da Consciência Negra em Curitiba

       Há algum tempo eu escrevia sobre como foi a panfletagem para o concurso Beleza Negra de Palmares, a ser realizado no próximo dia 05 de novembro. O início do evento é às 21:30h, na sociedade Universal, e promete ir até às 5h da manhã. O traje sugerido é esporte fino e o preço do convite é vintão
      Ainda é só comecinho de novembro, mas o concurso já integra a Semana da Consciência Negra, que ocorre todo ano próxima à data comemorativa de morte do líder negro Zumbi dos Palmares, o dia 20 de novembro, tornado o Dia da Consciência Negra. 

Semana da Consciência Negra

   


 Como no blog da semana eu não achei a programação, seguem abaixo as informações transcritas, tal como no cartaz. 








16/11 TEATRO JOSÉ MARIA SANTOS
           20H Espetáculo Memórias de Maria
           Grupo Raiz

17/11  TEATRO JOSÉ MARIA SANTOS
            19h Espetáculo Senzala
            Companhia de dança Pedro Quintino
            20h Espetáculo - Grupo de Teatro Madame Vós - regina Corcini

18/11  TEATRO JOSÉ MARIA SANTOS
            19h Espetáculo Grupo Setembrina
            Rede Mulheres Negras
            20h Espetáculo PALMARES

18/11   AUDITÓRIO MINI-GUAÍRA
            19h Espetáculo Senzala
            Companhia de dança Pedro Quintino
            20h Espetáculo O Varal - várias peças e muitas lembranças
            Grupo de dança Afro Pop Ginga Total

19/11   BOCA MALDITA
             9h Apresentações Culturais e desfile Afro
             TEATRO JOSÉ MARIA SANTOS
             18h Espetáculo O Varal - várias peças e muitas lembranças
             Grupo de dança Afro Pop Ginga Total
             19h Espetáculo A Flor da Identidade
             Grupo Flor do Baobá
             20h Espetáculo Tina Music

20/11    TEATRO JOSÉ MARIA SANTOS
             14h Espetáculo A Flor da Identidade
             15h30 Espetáculo - Grupo de Dança Oludum 'Baye
             17h Espetáculo DSTR
             Grupo Ka-Naombo
             18h30 Show Revolusom Africa na mente
             Grupo de rap Consciência Suburbana 
             20h Espetáculo Randakpalobaoba "A busca da semente"
             Grupo de teatro Nus Partus

20/11    AUDITÓRIO MINI-GUAÍRA
              15h Show Revolusom África na mente
              Grupo de rap Consciência Suburbana 
              Espetáculo Randakpalobaoba "A busca da semente"
              Grupo de teatro Nus Partus
              20h Espetáculo Tina Music
              


Haverá outros eventos não ligados à ACNAP, mas ligados ao Centro Cultural humaita. 

Segue programação:
18/11/2011
9h Orirerê - Cabeças iluminadas, Assembleia Legislativa do Paraná
18h- Aulão de dança afro, praça Santos Andrade

19/11/2011 
8h30 Seminário de dança afro, Teatro Londrina, memorial de Curitiba
15h Afoxé- o poder da palavra, Teatro Londrina
16h- oficina toques, cantigas de afoxé, Teatro Londrina

20/11/2011
9h30 culto inter-religioso, Igreja do Rosário
10h30 lavação das escadarias da Igreja Nossa Senhora do Rosário, seguida de cortejo de Afoxé até o Pelourinho de Curitiba, passando pelas gameleiras sagradas

Mais informações sobre estas últimas:
informativohumaita.wordpress.com

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Pôs o tênis no meio-fio: é puta!

Sou mulher. Quando saio para a rua, saio para uma guerra. Não posso ouvir meus pensamentos, porque ouço buzinas estridentes. Recomendam-me não responder. 
Estes dias resolvi sair de saia. É como se eu estivesse pelada. Gritos, buzinadas longas. Ao andar pela calçada, ao esperar no ponto de ônibus. Pus o tênis no meio fio? Estou pelada e sou puta. A puta clama pelo abuso. Rogo por uma grosseria. Suplico - não me deixem em paz! Não me deixem pensar no meu caminho ou nos meus afazeres. Violentem os meus ouvidos. Ainda não desceram do carro para violentar outros orifícios. Mas o aviso está lá: olha, que eu violento os seus ouvidos. Às vezes o som da buzina se define numa mensagem. O tema é minha buceta, meu traseiro, minhas coxas, os apetrechos que a puta aqui usa para ir de um lugar ao outro, num dia de verão, de tênis e saia. 


Meus algozes voam rápido, eles se repetem. São tantos e é o mesmo. Nunca falei com um deles. Fora do carro, longe da velocidade e do anonimato, ninguém faz isto. É todo dia violência, mas de saia, é insuportável. Não estou me insinuando. Estou com calor. Tenho um trajeto claro e firme pela frente. Vou à biblioteca. Mas sou a puta, a violável, que ousou pôr uma saia, com um tênis, para andar rápido. Lembram-me disso, de 20 a 30 vezes durante a minha caminhada. E pôr o tênis no meio-fio? É levar uma saraivada.

Quando dou de acordar muito feminista militante, eu visto uma saia.
E saio com ela para a guerra. 


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

quem doa, quem frui?

Ilustração de Michael Zichy

Tirei esta ilustração de Michel Zichy daqui


Amei. 


O pênis está lá, ereto. Mas ele não passa de um figurante. Quem sabe depois?

Tem uma doação e uma fruição ali, estas estão no centro do tema. 
Quem doa e quem frui? Depende do ponto de vista. A língua come a vulva. A vulva come, com sua língua e seus lábios, a língua e os lábios. Nada mais do que um beijo. Ambos fruem, o "comer" e o "ser comido". 


Sexo é doação e fruição mútua.


 Homem "dá". Mulher "come". Mulher "dá". Homem "come". 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

colonialismo mental na academia brasileira

Já cantava Bob Marley:
"Emancipate yourselves from mental slavery..."


O modelo para a academia brasileira é a Europa. Ontem ouvi isto de um professor da Federal do Paraná. Não coloco em questão a pessoa que falou isto, que pode ser uma boa pessoa, mas a mentalidade. A ideia surgiu em meio a uma conversa sobre o intercâmbio que a UFPR tem com a universidade de Lyon. O professor argumentava que o modelo acadêmico brasileiro estaria defasado em relação ao europeu. Que a tendência "mundial" (ou seja, do centro do capitalismo) é esta: o mestrado não vale mais nada, e o doutorado fica cada vez mais curto. O mestrado não é uma pesquisa independente, é só uma preparação para o doutorado. O modelo brasileiro estaria "defasado"? CNPq e Fapesp tem diminuído muito os nossos prazos. Estão atentos ao que acontece lá, no Primeiríssimo mundo, aquele que tem um Berlusconi e um Obama que captura ex-aliados tal e qual fez George W. Bush. 

"Nós não podemos ficar para trás" - "nossa referência é a Europa". Particularmente, eu fico estupefata que ninguém tenha se perguntado qual é o NOSSO interesse. Nosso interesse é automaticamente se adequar a um padrão externo. Digamos que nós erigíssemos um sistema acadêmico que fizesse sentido para nós, adequasse-se aos objetivos que nós mesmos estabelecemos, tanto no que diz respeito à ciência que queremos produzir, quanto ao país que queremos produzir. Mas isto traria uma certa inadequação aos parâmetro exteriores. Talvez perdêssemos um ano para conseguir fazer um sanduíche na Europa, talvez dois. Esta perda é mesmo uma catástrofe? Não é melhor ir para a Europa ciente do que aquela experiência deve agregar para nossos propósitos? O que falar das relações Sul-Sul? Propaga-se aos quatro cantos que o Brasil está mudando, que o mundo, talvez, esteja mudando. Mas nossos referenciais ainda parecem fixados no século XIX, quando ninguém duvidava que a ciência e o conhecimento tinha uma única fonte: a Europa. Produzir conhecimento nos trópicos era abrir uma sucursal europeia abaixo do Equador. 

Dou outros exemplos. Já faz anos que eu combato a ideia de que, para ingressar no doutorado em antropologia no Museu nacional, na Unicamp ou na USP, são necessárias "duas línguas estrangeiras". Mas não são quaisquer línguas estrangeiras. São inglês e francês. O aluno que se deu ao trabalho de aprender árabe, guarani ou xhosa  tem menos valor do que aquele que aprendeu as línguas do cânone da ciência sucursal. Aliás, não tem valor, porque esta habilidade, que apresenta muitíssimo mais dificuldades, não é levada em conta. No entanto, o que seria mais "antropológico"? Francês ou guarani? O que seria mais "antropológico": todos dominarem inglês e francês, ou uns dominarem guarani, outros xhosa, outros árabe? Não quero com isto defender que nós nos isolemos da produção mundial. Mas não quero que nos isolemos da produção mundial, que não é a produção euro-americana (né?). Supostamente é na antropologia que mais se tem conhecimento de que a língua é um fator de poder. A contradição passeia por aí, vistosa, mas ao mesmo tempo parece invisível. Ela está naturalizada, mesmo entre aqueles que se atribuem a tarefa de desnaturalizar aquilo que é produto das relações humanas. Eu sempre estive isolada defendendo o meu posicionamento. 

Como eu gosto de ter uma interlocução com a História, fui me inscrever na XXVIII Semana da História sediada no campus de Assis da Unesp. Aproveitei para dar uma olhada nos tópicos que serão discutidos. Temos um tópico em Idade Média - europeia, bem entendido, porque aqui o que houve é outra coisa. Aqui houve "descobrimento" de uns pelos outros. Não é que me incomode que alguém estude a Idade Média europeia. Mas é o desbalanço. Um grupo de trabalho destinado a isto. Implicitamente a Idade Média é mais nossa história do que o são os povos indígenas brasileiros, porque ainda é difícil que a História brasileira incorpore este tema. Ahh, mas este tema não pertence a História clássica, isto deixamos aos antropólogos. Não pertence à história clássica europeia, que desenvolveu os seus métodos para se entender! Se nossa situação é diferente, nossa história deve ser diferente! Ela deve ter um diálogo mais profundo com a antropologia. Alteridade é um fator, talvez o fator, mais relevante da história deste País. 



A questão toda faz a trajetória de um ciclo vicioso. Não entendemos "outras línguas" (não europeias) como relevantes, nos vemos responsáveis mais por história europeia do que por história brasileira. E portanto, não conseguimos definir objetivos próprios, pois tomamos os objetivos alheios como os nossos. Como não temos objetivos próprios, continuamos a achar normal que a Europa seja nossa referência acadêmica, em termos de línguas, tempo, formação, intercâmbios, temas. 

Obviamente este tema não aparece da primeira vez no Brasil. Como eu poderia esquecer de Darcy Ribeiro e Celso Furtado, entre outros? Mas há muito ainda para ser feito. Muito. 
Encontrar-se a si mesmo é tarefa para gerações. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Antídoto Píppi Meialonga


         Dia 12, dia das crianças, mais um dia no calendário do consumo e da afetividade. Mais um dia no calendário da afetividade consumista e por outro lado do consumo afetivo. A data está aí, e é difícil dar um novo sentido a ela quando o sentido social já está tão atrelado ao consumo. Minha admiração a quem consegue, e sei que o faz com o empenho de muitas energias, desviar deste massacre simbólico e propor um sentido diferente para a criança que está próxima- filh@, irm@, net@, etc. 
     Para nós, blogueiras feministas, tempo de falar do sexismo que envolve esta data específica. Nesta postagem, falarei de sexismo em produtos culturais, e portanto produtos de consumo, deixando claro, porém, que minha sugestão de produto cultural não é da ordem "o que você deveria comprar para o dia das crianças". A sugestão fica aí, para comprar se der, quando quiser e puder, e se não quiser nem puder, só saber da personagem Pipi, recontá-la e recriá-la já é divertido demais, o livro é só um detalhe.  
          Eu lembro da Píppi Meialonga quando me chegam às mãos alguns livrinhos da minha irmãzinha, oito anos. Este daqui foi o último que "li' com ela. Chama-se "As amigas secretas das fadas". A julgar pelo título, até que pode ser uma historinha legal, não é? Mas é daqueles livros infantis que deveria vir com a etiqueta "conteúdo não recomendável para menores de 16 anos". 
O objetivo das fadas é ir a uma festa. E as "etapas" da aventura são:

 Passar no salão de beleza de uma das fadas para arrumá-lo.



E passar na casa de outra fada para escolher as roupas e os acessórios.   
        Ó céus! Isto lá são etapas de uma aventura? De uma história? Onde está a história? O próximo passo será produzir livros em que a aventura de pequenas meninas seja fazer compras, sem a vergonha deste último disfarce, em que as fadas fazem coisas tão nitidamente ligadas ao consumo e à futilidade. O que eu julgo particularmente curioso, é que uma série de pais (estou falando homens) que é muito ávida em criticar o consumismo da mulher, não raro acima de suas posses, não vê nada de errado em "instruir" a filha com este inocente livrinho. Qual é a ação das fadas? Senão arrumar um salão de beleza, escolher entre modelitos...?

Antes de que eu fique doente, preciso falar do antídoto Píppi Meialonga. 


Bom dia, Píppi. Bom dia, Sr. Nilson.

            Eu tinha exatamente a idade que minha irmãzinha tem agora quando li a história da diabrete ruiva. Píppi é uma menina tão forte que pode carregar um cavalo. Ela mora sozinha, sozinha, é dona do seu próprio nariz. Sua mãe é um anjo e seu pai um pirata. Não é que ela não goste dos seus pais, ela até sente saudades deles. Mas a vida sem adultos chatos pode ter muitas vantagens! Os seus vizinhos-amigos, Aninha e Tom, são crianças tipicamente burguesas e sabem muito bem o que é ter de se submeter a uma disciplina para tudo. Para eles a Vila Vilekula é um território de liberdade. Píppi é incrivelmente livre.  Com um baú cheio de moedas de ouro que o pai deixou e que ela usa com parcimônia, sua vida está garantida. Ela não precisa de muitos brinquedos, porque sua própria casa e sua invencionice bastam para garantir 24 horas de diversão. Píppi sequer vai à escola, este lugar onde se domesticam crianças!

 Píppi não tem patrão nem pátria. Não obedece as leis dos adultos, do mercado, nem do Estado. Sim, a liberdade de Píppi é altamente subversiva! Até 1995 a tradução para o francês não correspondia ao original para "não desviar demais da realidade". No Irã Píppi não é bem-vinda por não representar os valores da Revolução Islâmica. Também pudera... (Fonte) 


 No Brasil há duas edições com o mesmo texto, traduzido diretamente do sueco, ambas da Companhia das Letras. Eu prefiro as ilustrações antigas, no caso do livro da esquerda. Esta nova roupagem da direita me cheira a blacklash e domesticação. Olha as perninhas cruzadas dela... e onde isto representa o humor que perpassa todos os livros? Não, nem sua mãe literária, a escritora Astrid Lindgren, nem Píppi ela mesma merece isto. Nem nós. Senão um dia Píppi ainda irá ao shopping com as amiguinhas de colégio escolher roupas com o cartão de crédito ouro do seu pai pirata do sistema financeiro...

Nada mais anti-Píppi. 
E algo anti-Píppi só pode ser combatido com o antídoto da Meialonga.
Bom dia das crianças subversivo a todos. 




segunda-feira, 10 de outubro de 2011






























Por favor ajude-nos.
Você já viu alguma representação gráfica de evolução humana?
Ou até hoje você só viu o Primeiro Sexo evoluindo?
Quando o Segundo Sexo evolui, o que ele evoca?


http://scifigeektees.com/results

domingo, 9 de outubro de 2011

Araucária, a rainha da paisagem

              O Samir Nosteb fotografou este lindo bebê-araucária.  



Eu fico triste só de pensar que Curitiba terá cada vez menos destas copas majestosas no céu. As atuais são protegidas por lei.
Mas há gente plantando novas nas regiões centrais?




Aqui estas rainhas são a alma da paisagem.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

quem ganha com a "polêmica" entre Rafinha e feministas?

       Escrevo em um momento em que ainda não é claro se foi ou em que medida foi uma armação a suspensão do Rafinha Bastos do programa CQC (para quem quiser se inteirar sobre o ocorrido, por favor leia a postagem da Lola). Para efeito de certa estratégia de conduta seria interessante que alguma(s) feminista(s) fosse malaca ou insider o suficiente para saber o que de fato se passa. Mas acho que ainda não apareceu uma que soubesse. Mas acredito que há um plano no qual isto não interessa. 
      Suponhamos que o dito cujo faça a sua "volta triunfal", por consequência de uma armação ou simplesmente porque o dinheiro falará mais alto - neste exato momento existe uma multidão pedindo a sua volta no twitter, talvez exatamente o que queria. Ele terá atingido o seu objetivo, e será uma personagem ainda mais midiática e heroica, com ares de mártir do "politicamente incorreto". Ele aumentará a adesão... entre aqueles que ele já atraía e alcançava, pelos meios que possui. 
          E nós, pobres feministas da nova geração, blogueiras ou não? É claro que todos estes eventos tendem a provocar uma maior coesão entre nós. Vai ser difícil achar alguém que discorde de que Rafinha e LTDA não sejam machistas e incitadores de machismo. Até aí, fica empatado - cada grupo tão pequeno ou tão agigantado quanto antes, ambos mais coesos do que antes. 
           Mas, e o pessoal que estava em cima do muro? Será que o Rafinha só aglutina, não se desgasta? Não acredito. Deve existir um grupo de gente para quem ele era razoavelmente indiferente e, pouco a pouco, ganhou motivos mais fortes para antipatizar com ele. Na noite em que a suspensão saiu, ou seja, a noite de ontem, muitos descontentes com ele apareceram no twitter. Muitos não tinham, a princípio, uma leitura feminista do fenômeno. Eu resolvi interagir com tuiteiros e indicar a postagem da Lola mencionada acima. Foi uma ótima experiência que eu pretendo repetir! Ela certamente ganhou leitores e eu conheci gente legal. 
       Neste movimento de "polêmicas" possivelmente pré-fabricadas pela mídia, os campos se definem melhor. As massas aglutinadas por personas midiáticas não são destituídas de poder por serem volúveis e pouco consistentes. A história mostra que não (e da pior maneira possível). Mas pequenos grupos com alta capacidade de organização e qualificação de seu discurso também não o são. Na minha avaliação, vale a pena entrar nestas confusões. Para dar a cara a tapa, aprender, aglutinar novas pessoas e, na medida do possível, qualificar o debate. Não estou falando de qualificar o discurso dos outros. Tenho muita consciência de que a interação me qualifica, e tenho sede por isto. Embora intuitivamente repugnada com o pseudo-humor do CQC eu tenho muitas questões abertas sobre se e por que meios se pode ou deve tentar limitar o discurso de alguém.

PS. Um fenômeno a princípio positivo (porém um pouco ambíguo) foi o Boris Casoy explodir  ontem à noite nos trending topics. Foram muitos os que se lembraram que nenhuma sanção foi imposta ao âncora quando ele ofendeu feio e sem nenhum motivo os garis. Pela lógica apresentada, a princípio estas pessoas acham errado ofender a Wanessa Camargo e também ofender uma mulher comum. Dá para trabalhar aí.

PS2. Este blog ainda vai virar uma espécie de "observatório" do mega-blog do Luís Nassif. Para variar, surpreendeu que o mesmo tenha resolvido não subir a questão de Rafinha para as postagens do Blog, apesar de vários leitores sugerirem isto. Foi meio anti-democrático, eu achei.