quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Beleza Negra de Palmares - uma panfletagem por Curitiba

           

        Há alguns dias panfleto em Curitiba para o Concurso Beleza de Palmares, organizado pela ACNAP. A panfletagem foi altamente gratificante até agora. Dentre aproximadamente 150 panfletos que distribuí, houve apenas uma pessoa que negou o meu panfleto. De resto, as pessoas em geral sorriram, agradeceram, perguntaram. Fora aqueles que já conheciam o concurso e levaram para os amigos. 
     Outra gratificação foi eu ter expandido a percepção da minha própria cidade. Há mais negros em Curitiba do que eu imaginava. Até aí, previsível, já que desde pequena eu fui um alvo da ideologia da "cidade dos imigrantes", que invisibiliza os negros curitibanos. 
   Mais situações previsíveis se deram. Por exemplo: entreguei um panfleto a uma menina que eu não julgava negra só por cortesia, já que meu interesse era entregar o panfleto aos seus dois acompanhantes, estes sim, a meu ver, homens negros. Pois bem que eram todos irmãos. Ufa! Decisão acertada entregar para todos.  

          Pois é. Vi-me diante da tarefa de classificar, pois os panfletos são escassos e sua entrega deve ser direcionada àqueles que tem maior probabilidade de concorrer ao concurso, negros e negras entre 17 e 35 anos. Percebi que houve momentos em que deixei pessoas de fora porque temi que a própria pessoa não se reconhecesse como negra. Para me beneficiar da certeza do acerto, eu procurei por um certo tempo apenas pessoas mais "inequívocas", ou seja, com traços mais negros.
           Estes seriam momentos que muitos veriam como cruciais para denunciar toda a questão da afirmação negra como um engodo. Trata-se daqueles que veem o Brasil como uma democracia racial, produto da forte miscigenação. Mas como eu não acredito em democracia racial brasileira, não vi esta circunstância como a prova do fracasso da empreitada.  Miscigenação não é incompatível com reconhecimento da presença e história negra. 
           Agora que meus panfletos se foram, penso que teria sido melhor englobar mais pessoas, "menos negras" no olhar apressado de quem anda pelas ruas do centro. Penso que elas também tem o direito (e não o dever) de se ver como negras. E dane-se se alguém me olhasse com cara surpreendida ou feia. É claro que eu não estava convicta de tomar esta atitude antes porque sou branca, e neste caso eu me senti, por um momento, desconfortável na tarefa classificatória, ainda que de consequências tão brandas. É... foi o momento da sensação "estranha no ninho", de me perguntar pela minha própria legitimidade.
         Lembrei-me então do Jaime Tadeu da Silva, presidente da ACNAP, para quem o Movimento Negro se beneficia da abertura para a sociedade em geral, do reconhecimento que pode achar fora de suas próprias fronteiras. Estou de pleno acordo com ele e tenho sede de uma sociedade em que todos valorizam todos reciprocamente, e em que não seja necessário se guetificar para ser valorizado. Importante lembrar que o evento da Beleza Negra dos Palmares, onde só negros concorrem, convida a todos para a festa. Então este é só mais um aspecto da estratégia da ACNAP que eu considero acertadíssimo. No dia 5 de novembro, na Sociedade Universal no Prado Velho, estarei lá para conferir e prestigiar. 

PS1. Mais informações: http://belezadospalmares.blogspot.com/
PS2. Sobre a importância de inicitivas deste tipo, vale a pena dar uma olhada da postagem hóspede no blogue da Lola http://escrevalolaescreva.blogspot.com/2011/09/guest-post-o-racismo-de-todos-os-dias.html
              
              

               
                             

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E você, o que pensa?