domingo, 28 de novembro de 2010

como se definem as posições políticas?

Há muita gente que adoro e respeito que torceria o nariz para o post que agora se escreve. o problema é que adoro provocar quem eu adoro e respeito, então vamos lá.

Já se perguntou de onde nascem as suas concepções políticas?

"Do meu raciocínio", argumentam muitos. Para eles, é por meio da lógica que chegam às suas conclusões políticas. Este tipo de visão sobre o assunto, se não matizado, tende a levar a uma postura pouco interessante sobre a diversidade dos pontos de vista políticos, além de tendências ególatras também. Vejamos: se eu uso do meu raciocínio, livre pensamento para escolher meu candidato, ser pró ou contra descriminação do aborto, pró ou contra esta ou aquela política pública, então quem não está do meu lado... não raciocina direito! Levada às últimas consequências, esta visão poderia descambar a) na ideia de que alguns iluminados entendem de fato o que se passa e o que é correto, e o resto é burro mesmo, em vários níveis talvez, ou b) se ficarmos no bar ou na academia ou onde for discutindo ad nauseum, um belo dia todos sairão com as mesmas concepções. Mesclas destes dois modelos também são possíveis. Exemplo: os inteligentes se entenderiam ao fim de uma longa discussão (talvez dois séculos seriam suficientes?), mas os burros se degladiariam até o fim, ou insistiriam em sua burrice após cansar-se da controvérsia.

Superhipersociologicamente alguns poderiam argumentar que é nossa posição social, talvez aliada ao percurso de vida, que forma as concepções de cada um. Digamos, alguém é... pequeno empresário, filho de imigrantes, é branco, sofre com as oscilações políticas, etc e mora no Estado de São Paulo, em uma região conservadora. Qual a chance deste indivíduo ser tucano? Muito, muito alta. É claro que escapa a esta visão o que os 10 ou 30% de homens brancos na mesma situação fazem para não ser tucanos. Ou então não escapa. Talvez alguém padeça de um ser delírio sociológico e acredite que, uma vez dadas e analisadas todas as condições concretas de vida, o meio, as influências, etc, não haja erro para determinar se uma pessoas vota em partido x ou y, se apoia esta ou aquela política. Este hipersociologismo, que eu espero não se confunda com uma bela e boa sociologia, poderia dar conta de momentos de indecisão? Até a indecisão política seria passível de ser detectada, segundo este esquema? E as grandes mudanças de humores políticos, como seriam interpretadas? Há no país 50% de pobres (dado fantasioso), mas numa eleição votam em um canditado, noutra em seu maior opositor. E nada substancial mudou na estrutura da sociedade ou na vida das pessoas. As flutuações políticas, muito baseadas em argumentos, ou pelo menos em discursos, que apresentam argumentos mesmo que não necessariamente aqueles entendidos como os mais racionais, escapariam ao hipersociologismo. Ou então dedicar-se-ia um setor especial, de sociologia um tanto mais mística, mais astrológica, a esta questão dos discursos. Mas mais uma vez seriam mais as influências, a história prévia, as condições concretas de vida que determinariam a boa ou má recepção deste ou daquele discurso. O raciocínio do indivíduo, sua avaliação própria, estariam novamente fora do mapa.

Estas duas caricaturas parecem até engraçadas, mas como as caricaturas são, deixam você reconhecer discursos mais complexos que, no final, tem uma das duas alternativas como pano de fundo.

Então como, afinal, se formam as nossas posições políticas? Em algum lugar entre estas duas caricaturas. (Para simplificar a questão, pois haverá sempre pessoas prolixas para dizer que estou me baseando em uma falsa antinomia individuo - sociedade, etc. OK, pode ser, mas é didático e é para construir um raciocínio).

Em breve um estudo de caso in loco, baseado em uma indecisão minha. Hasta la vista.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Counterfactual history

No sábado passado tive o privilégio de almoçar com o professor Fernando Novaes. Quem é um pouquinho familiarizado com história do Brasil sabe que o Sr. Novais é nada menos do que uma sumidade. Sorte a minha! Lá pelas tantas especulamos sobre o destino do professor Rogério, caso este tivesse feito seu doutorado 20 anos antes. E o professor Fernando jogou no ar: E se... o Sul dos Estados Unidos não tivesse abolido a escravidão? E se... o cristianismo não tivesse sido tornado religião oficial do Império Romano por Teodósio, em 380 d. C.? O que eu pensaria de uma história escrita assim, a partir de conjecturas, perguntou a mim. Excelente! - disse eu. E emendei: seriam fantásticas perguntas para estimular a criação de um romance, de uma ficção, pois havia tomado "história" em seu sentido amplo. E assim salvei meu lindo couro. Pois por pouco o professor entende que, de maneira semelhante a alguns departamentos de história nos Estados Unidos e na Itália, eu aprovo especulações desta natureza como História, a disciplina.


Non! Je ne suis pas fou!

 Pasmem: segundo a confiabilíssima fonte, teses de doutorado, às vezes acompanhados de calhamaços de estatísticas,  são produzidas a partir de perguntas assim, "o que teria acontecido, caso....".   E tanta gente séria sofrendo sem bolsa no Brasil : (

Passado o espanto (e indignação) inicial com estes loucos, posso me divertir com o tema. Na verdade, gostaria de propor uma perguntinha para historiados em terras distantes que serão pagos com o dinheiro do contribuinte local e, por vias indiretas, um pouco por nós (à medida que o lucro das empresas estrangeiras é repatriado de tempos em tempos).

 E se... todas as aventuras de Asterix tivessem de fato ocorrido?



O que seria de nós agora, ó ilustres historiadores? 
(Favor demonstrar com ajuda de fartas estatísticas, gráficos e tabelas).

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

seleta comemoração

Infelizmente a comemoração da vitória da Dilma na Paulista contou com poucas pessoas. Infelizmente, porque gostaria de ver mais gente empolgada e feliz. Mas havia gente empolgada e feliz. E uma clima muito legal. Talvez a vantagem de terem sido não muitos a ir comemorar. Havia famílias, muitas mulheres e lindíssimas senhoras. Destas últimas, pedi para tirar uma foto e elas consentiram. Pena que minha câmera é ruinzinha e eu para manejá-la não faço milagres à noite.



 Então ficou tremidinha assim. Festança também é cultura. Fui pedir autorização para postar minha foto tremida no blog e apredendi que a senhora ao fundo, a menos nítida de todas, Bia Pardi, foi a sub-prefeita de Pinheiros na gestão da Marta. Estava lá também o Sakamoto, do blog do Sakamoto. Considerei tietar, mas deixei. Na festa, uma alegria serena e descontraída. No asfalto, rancor tucano. Eventualmente um ou outro simpatizante de Dilma entrava na pista destinada aos carros (só uma estava fechada para comemoração) e a tucanada respondia metendo o pé no acelerador e dando cavalo de pau. 

Engraçado. Eu ficaria muito frustrada com a vitória de Serra, mas jamais me passaria pela cabeça acelerar com pessoas na pista. Não foi um ou outro carro não. Foram alguns.

nova ortografia e uma pergunta cretina

se alguém se chama, digamos, Andréia, e o nome da pessoa foi corretamente grafado pelos pais e pelo escrivão (só isto merece um viva!), mas agora o acento neste caso caiu e então...

a) o acento do nome cai automaticamente

b) fica-se com o acento, agora errado

c) nunca gostei deste acento mesmo

d) que questão mais cretina

Pinto d'ouro: categoria blog do Nassif

É assim a vida, minha gente. Nos blogs ditos progressitas tá cheio de macho convicto de que mulher serve para rebolar para ele, ser gostosa para ele e ainda cozinhar para ele. Com a vergonhosa conivência do sr. Nassif, que abriga este tipo de comentário de baixo nível e sem nenhum propósito no site dele.

Ao Nassif mesmo, pelo conjunto da sua obra, não darei o prêmio. Crio apenas uma categoria para ele!

E o feliz ganhador do Pinto d'ouro categoria blog do Nassif é... ou então, melhor dizendo...


And the golden Penis goes to...

um tal de jotaroberto pelo belíssimo post a ser verificado aqui: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-bombshell-jennifer-lopez

sábado, 6 de novembro de 2010

ando em love

Ah, o amor é lindo! Deixem-me curtir feliz minha lua de mel com a presidenta Dilma.

Atribulações virão. Decepções também. Quando não é a primeira vez que você se apaixona, sabe-se disto. E faz votos mesmo assim, a não ser que seja um poço de amargura.


Há dois anos eu acreditava que levaria mais 100 anos para termos uma presidente mulher. Há dois anos eu acreditava que a geração que resistiu à ditadura não ocuparia postos-chave. Que a história do país não seria revista, amplamente, no bom sentido. Há 10 anos eu jamais imaginei que o PT teria três mandatos consecutivos. Jamais imaginei que o Brasil teria coragem e condições de explorar a posição que lhe é digna no cenário internacional. Não imaginei três governadores de São Paulo poderiam ser derrotados para a presidência (pausa para o gostinho especial, slep!). Não imaginei que, não da maneira como concebeu, mas que de certa forma a desigualdade regional, o "imperialismo interno" acusado por Celso Furtado caminharia para se reverter...
Jamais! Vivi uma adolescência politicamente tão medíocre que não gosto nem de lembrar. Eram os tempos de hegemonia da Disney, para adultos e crianças. Muitos de meus conhecidos e colegas estagnaram naqueles anos de ouro fajuto. Era uma sensação bizarra. Como tentar velejar em um lago sem vento. Não parecia haver direção, saída. Praticamente o que havia era a utopia dos loucos, dos outsiders. Mas agora, assim como milhões, posso dizer, agora me sinto confortável no meu tempo. Acho que quando eu disser para os meus netos "no meu tempo..." não será a década de noventa (cruz credo!). Será esta agora que finda, esta agora que começa. Estar em sintonia com o seu tempo... é como ser um labrador na água! É como uma criança no parquinho! É como... tudo aquilo que se encaixa. Dilma não viveu os torpes anos 90 e sim coisa ainda pior. Podia facilmente ter sido subtraída de seu tempo. De sua vida mesmo. E graças a pessoas como ela, que se negaram a aceitar um tempo, que imprimiram sua vontade ao tempo, que aqui estamos. Que as forças celestes me previnam de me ver de novo, a mim e a tanta gente progressita neste país, destituída do próprio tempo.  Os reacionários podem ir a Miami. Eu ficarei com os meus anos, aqui. E, por hora, em love.


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sobre Postes e Postes

Um dos bordões que deveriam descredenciar a candidata do PT nestas eleições é a de que ela seria "um poste". Confesso que demorei um pouco para entender o que seria "um poste". Estava mais acostumada com figuras como o boneco de ventríloco, ou como a marionete. Aliás, marionete não teria emplacado mais? Afinal, postes não falam. E Dilma fala. Marionetes e bonecos de ventrílocos representam papéis estipulados por outrem. A dissolução deste estigma wanna-be (ao menos para o público que tem o mínimo de empatia com as transformações que estão se dando no Brasil e com as mulheres) aconteceu, na minha opinião, em parte no horário político eleitoral, quando, acertadamente na minha opinião, optou-se por não engessar demais a candidata. Sequer os "achismos" dela foram editados. Editados! Quer dizer, no vídeo editado você pode recortar os candidatos, assim como os fatos, a seu bel-prazer. E a
opção não foi esta. Aquela história de "acho isto, acho aquilo" foi a primeira que me irritou. Parecia-me um sinal de insegurança onde não poderia haver alguma. Perdurou por um tempo... e foi embora. Esvaneceu-se em meio à impressão de sinceridade e à identificação com o projeto político. Acredito que se eu tivesse identificação com a proposta política de Serra veria o seu sorriso aterrorizador apenas como um charme excêntrico. Mas como este não é o caso... Tudo isto para falar do poste. Cadê o poste que estava aqui? Dilma acertadamente bateu na tecla que apontava a incoerência lógica do adversário, que ora a apontava como terrorista maquiavélica, ora como objeto inanimado. Não teria sido melhor pintá-la como "a sonsinha da guerrilha"? Ou então apenas como o demônio disfarçado de gente, que manipula até o presidente Lula? Creio que a Dilma caricata talvez pudesse ter feito mais sucesso como vilã de novela. Mas os dois, ao mesmo tempo, é difícil.
É claro a incoerência proposta pela oposição tem suas raízes estruturais, por assim dizer. Qualquer mulher cai potencialmente bem no papel de vilã de novela. Bruxa destruidora de lares. Por outro lado, nunca tem autonomia suficiente, intelectual, política, a não ser, é claro, a autonomia de prejudicar os outros por puras vontades  irracionais, que em nada se parecem com o desejo de poder legítimo, óbvio, natural e sacralizado do homem. Ou seja... à mulher cabe também o papel do poste. De laranja natural do projeto de algum pintudo.

É por isso que cheguei a temer, quando da súbita, bizarra e reprovável candidatura Weslian Roriz que este fosse um golpe simbólico mais do que apenas um golpe roriziano infantil. Ao expor Weslian como a eterna poste, a eterna falta de autonomia feminina, o segundo sexo, o poste sem luz, Roriz falaria "no fundo, são todas iguais e todas nos pertencem, cada uma delas a cada um de nós". Mais distante daquele momento, pude proclamar aliviada a minha paranóia. Não chegou a meu conhecimento que Weslian fosse igual a Dilma. Acredito que os detratores se encantaram mais pela Dilma destruidora de lares, e deixaram o estereótipo da dona-de-casa inepta e apendicular de lado.
Não vinha de Roriz, pouco antes e pouco depois de pleito, o ataque simbólico que eu esperava. Mas vinha do Estado de São Paulo. "Presidente 'de fato' da Argentina morre", dizia quando do falecimento de Kirchner. Fiquei pasma com a cara-de-pau do veículo. Depois do pleito: "Lula vence outra vez". Em menos de 10 dias as duas maiores mulheres da América Latina (quem sabe de sua história inteira) eram jogadas no lixo. Não era uma questão de dar a César o que é de César, enfantizando o papel de Nestor e Lula na eleição de ambas. Era um puro "vocês não existem e não tem mérito algum". Algum. Lendo o Estadão tem-se a nítida certeza de que cristina foi eleita porque havia um impedimento legal para que Nestor o fizesse, o que não foi o caso. O casal decidiu lançar a candidata, assim mesmo. No caso de Lula e Dilma, em que havia um impedimento legal, ele não lançou sua esposa Letícia, que seria certamente a Weslian da história. Mas uma mulher duas vezes ministra. Isto não parece fazer diferença para o Estado, para quem todas, afinal, são segundo sexo e ponto.

Para finalizar a questão, que não é trivial nem pouco, falo de um verdadeiro poste que tive o (des)prazer de conhecer. Ou melhor, a boneca de ventríloco, dado que discursava pelos cotovelos. Quem compartilhou comigo do ambiente político da UNICAMP na primeira metade da década que se despede em breve saberá a quem me refiro. Nomes não são necessários. Necessária é a história. De dois machinhos ególatras, carinhosamente apelidados de Trotsky e Stalin, e que elegeram "uma mulher" para vereadora da cidade de Campinas. Primeiro costuraram sua candidatura no interior do grupo que apoiava uma perspectiva de universidade que mesmo hoje, traumas políticos à parte, não abandonei. Fizeram-no da seguinte forma. Conversaram com cada qual, perguntando o que se considerava da candidatura. Não com todos, mas com a maioria. A minoria julgada menos importante teria de fato uma surpresa durante a reunião em que a questão seria 'debatida'. Mostrei-me refratária não ao projeto em si, mas à falsa democracia e ao falso respeito. Na época, procurei articular um grupo que contestasse o ignomínia do processo. Mas o grupo tinha anseios diferentes e também percorreu caminhos diferentes, estilhaçou-se sem conseguir fazer frente ao núcleo manipulador e continuar "a luta". Ou então conseguiu, à sua maneira, de certa forma recomposto tempo depois. Mas aquele não era o seu tempo, para o meu desapontamento, mas que eu tive de respeitar, porque querer "acelerar o processo" é muitas vezes o nome que se dá a estes tratoramentos em nome de algum projeto.

Por que o "poste" feminino era o sonho de consumo do machinho maquiavélico (na sua acepção menos nobre)? Porque poderia explorar sua imagem política e até mesmo sexual (a candidata foi visivelmente sexualizada durante a campanha) sem ônus próprio. Porque dava uma carinha de progressismo (vejam, uma jovem líder mulher de origem pobre!) a um projeto que se autointitulava de esquerda, mas aquela esquerda que não acha que a igualdade se forja no processo nem que vale tanto quanto para as mulheres. Porque em caso de sucesso político, se viria com o poder nas mãos. Mas no caso de fracasso poderia ir vampirar outro poste. A mulher em questão não era desprovida de méritos. Mas eram os méritos típicos das mulheres tradicionais: a cooperação irrestrita que sinaliza a subserviência, a tomada de projeto alheio como se fosse seu, e o quase orgulho em exercer estas funções.

Alguma moral da história? Apenas indicações. Não recusemos bons quadros mulheres só porque bizarramente representam uma exceção em uma estrutura dominada por homens (o número de 90% de parlamentares do sexo masculino indica isto). Mas o fato de a estrutura ainda ser tão desfavorável faz com que haja mulheres de várias procedências no jogo político. Mulheres neste caso representam não uma unidade e uma identidade, mas o avesso uma da outra. Encarnam, cada qual, uma das facetas das contradições do processo lento, conturbado e cheio de idas e voltas da nossa emancipação.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Troféu Pinto D'Ouro

Esta postagem inaugura a premiação do troféu "Pinto D'Ouro" para personalidades mais ou menos VIPs, intuições e coisas até. Com esforço e afinco, qualquer um pode levar. Para isto basta provar por meio de uma atitude, frase, discurso ou símbolo que o grande Pinto é o centro do universo. Que tudo gira em torno dele. A Terra, os astros, e principalmente os seres destituídos Dele mesmo, o grande Pinto, e dotados de míseros órgãos que, podendo ser descritos como lindos, incríveis, mágicos, contanto que conheçam e sirvam o seu senhor, o resplandecente dito cujo.