Há muita gente que adoro e respeito que torceria o nariz para o post que agora se escreve. o problema é que adoro provocar quem eu adoro e respeito, então vamos lá.
Já se perguntou de onde nascem as suas concepções políticas?
"Do meu raciocínio", argumentam muitos. Para eles, é por meio da lógica que chegam às suas conclusões políticas. Este tipo de visão sobre o assunto, se não matizado, tende a levar a uma postura pouco interessante sobre a diversidade dos pontos de vista políticos, além de tendências ególatras também. Vejamos: se eu uso do meu raciocínio, livre pensamento para escolher meu candidato, ser pró ou contra descriminação do aborto, pró ou contra esta ou aquela política pública, então quem não está do meu lado... não raciocina direito! Levada às últimas consequências, esta visão poderia descambar a) na ideia de que alguns iluminados entendem de fato o que se passa e o que é correto, e o resto é burro mesmo, em vários níveis talvez, ou b) se ficarmos no bar ou na academia ou onde for discutindo ad nauseum, um belo dia todos sairão com as mesmas concepções. Mesclas destes dois modelos também são possíveis. Exemplo: os inteligentes se entenderiam ao fim de uma longa discussão (talvez dois séculos seriam suficientes?), mas os burros se degladiariam até o fim, ou insistiriam em sua burrice após cansar-se da controvérsia.
Superhipersociologicamente alguns poderiam argumentar que é nossa posição social, talvez aliada ao percurso de vida, que forma as concepções de cada um. Digamos, alguém é... pequeno empresário, filho de imigrantes, é branco, sofre com as oscilações políticas, etc e mora no Estado de São Paulo, em uma região conservadora. Qual a chance deste indivíduo ser tucano? Muito, muito alta. É claro que escapa a esta visão o que os 10 ou 30% de homens brancos na mesma situação fazem para não ser tucanos. Ou então não escapa. Talvez alguém padeça de um ser delírio sociológico e acredite que, uma vez dadas e analisadas todas as condições concretas de vida, o meio, as influências, etc, não haja erro para determinar se uma pessoas vota em partido x ou y, se apoia esta ou aquela política. Este hipersociologismo, que eu espero não se confunda com uma bela e boa sociologia, poderia dar conta de momentos de indecisão? Até a indecisão política seria passível de ser detectada, segundo este esquema? E as grandes mudanças de humores políticos, como seriam interpretadas? Há no país 50% de pobres (dado fantasioso), mas numa eleição votam em um canditado, noutra em seu maior opositor. E nada substancial mudou na estrutura da sociedade ou na vida das pessoas. As flutuações políticas, muito baseadas em argumentos, ou pelo menos em discursos, que apresentam argumentos mesmo que não necessariamente aqueles entendidos como os mais racionais, escapariam ao hipersociologismo. Ou então dedicar-se-ia um setor especial, de sociologia um tanto mais mística, mais astrológica, a esta questão dos discursos. Mas mais uma vez seriam mais as influências, a história prévia, as condições concretas de vida que determinariam a boa ou má recepção deste ou daquele discurso. O raciocínio do indivíduo, sua avaliação própria, estariam novamente fora do mapa.
Estas duas caricaturas parecem até engraçadas, mas como as caricaturas são, deixam você reconhecer discursos mais complexos que, no final, tem uma das duas alternativas como pano de fundo.
Então como, afinal, se formam as nossas posições políticas? Em algum lugar entre estas duas caricaturas. (Para simplificar a questão, pois haverá sempre pessoas prolixas para dizer que estou me baseando em uma falsa antinomia individuo - sociedade, etc. OK, pode ser, mas é didático e é para construir um raciocínio).
Em breve um estudo de caso in loco, baseado em uma indecisão minha. Hasta la vista.
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