quinta-feira, 10 de março de 2011

100 anos de Dia Internacional da Mulher em Viena

Ha praticamente 100 anos, no dia 19 de marco de 1911, 20 mil manifestantes, em sua grande maioria mulheres, se organizaram sem twitter nem facebook em torno do direito ao voto no centro de Viena. Paises que entao tambem contaram com massiva presenca feminina e feminista nas ruas foram Alemanha, Suica, Dinamarca e Suecia. Ja nos anos 1970 a ONU oficializou o dia 08 de marco como o dia Internacional da Mulher.
Como parte das festividades fomos convidadas as mulheres das cercanias de Viena para uma serie de atividades comemorativas no predio da prefeitura.
O salao festivo da prefeitura e digno de um imperio multinacional, de uma suntuosidade dificil de descrever ou mesmo dificil captar por uma lente amadora como a minha. Eh uma delicia entrar la.

Entrei mais admirando o predio e logo em seguida fiquei um tanto hesitante, ja que os stands montados imediatamente me remeteram a minha experiencia com o UPA (Universidade de Portas Abertas) da UNICAMP, evento este que buscava apresentar a universidade como esplendido trampolim para as grandes empresas a jovens ainda no segundo grau. Cursos como o meu nao tinham chance neste evento, a nao ser como desvirtuadores non gratos. E esta ideologia toda era um pastelao para mim. Para piorar um pouquinho, a perua loirosa que apresentaria o evento me parecia um mal indicio. Eu me perguntava: e agora, o que saira da boca desta secretaria de Viena para assuntos das mulheres? Entao ela comecou a falar e dissipou qualquer traco de receio meu em 10 minutos. Como suele ser estavamos, com a graca da Deusa, em um evento feminista. E os stands que em sua forma tanto lembravam os do UPA eram stands feministas. Territorio amigo, hora de relaxar os musculos.


Sandra Frauenberger, que tem mulher ate no nome, fez um discurso para la de feminista, um deleite. Ela foi endossada pela ministra austriaca de assuntos das mulheres. Pelo dialogo das duas ficou claro como uma prefeitura pode ter um vies feminista. Ambas tracaram comparacoes entre Viena e o restante do pais. O fato de haver creche em tempo integral apenas na metropole leva a situacao de muito mais mulheres trabalhando tambem em tempo integral, o que por sua vez faz reduzir muito a discrepancia salarial entre homens e mulheres. Isto tudo para nao falar dos servicos especificos que atendem apenas a capital, como casas onde mulheres vitimas de violencia podem se abrigar com seus filhos, servicos de atendimento imediato em caso de violencia, etc.
Em "entrevistas" posteriores falou-se da historia do feminismo em Viena, do futuro do feminismo na cidade, fez-se demonstracoes de defesa pessoal para mulheres, que tambem pode ser aprendida em qualquer VHS da cidade (as escolas tecnicas que abrigam a maioria dos cursos livres no pais), alem de exortacoes para que as mulheres nao facam valer apenas seu direito de eleitoras, mas tambem de candidatas..
Mais tarde houve visitacoes guiadas pela prefeitura para mostrar o trabalho atual e passado de feministas, bem como uma visitacao guiada a uma exposicao que perfila diante dos nossos olhos centenas de cartazes ja confeccionados na Austria em prol da causa da mulher.
Muito diferente do UPA, este "perfeitura de Viena de portas abertas para as mulheres" de fato me fez sentir - eu que sou mulher mas nem sou austriaca - em casa. Me fez sentir mais segura na cidade onde eu ando agora, mais parte dela. Vale a pena lembrar que os servicos mencionados por Frauenberger atendem mulheres EM Viena, nao somente mulheres vienenses. Pude me sentir irmanada com Rosa Luxemburgo e Clara Zetkin, estas mulheres colossais sobre quem Kaustky disse com razao que eram "os ultimos grandes homens da social-democracia". E foi neste contexto, para mim completamente novo, que eu, contrariando meu passado de ranzinzice, AMEI ganhar uma rosa vermelha.

Um comentário:

  1. Aprendi a ser feminista com essa mulher forte, loira, alta,que vos escrevem! Foi ela que deu meu primeiro livro feminista! Hoje, não consigo olhar mais pro mundo sem enxergar a desigualdade na relação entre homens e mulheres, principalmente nas questões que envolvem o trabalho feminino (salários desiguais e com poucas mulheres no comando, empregos part-time e/ou precarizados) e a reprodução da vida social (segunda e terceira jornada de trabalho, responsabilização da educação dos filhos, do cuidado da casa, dos idosos).
    Muita coisa está mudando, e Viena mostra isso pra gente! Em 100 anos muita coisa mudou, mas todas nós sabemos que falta ainda um caminho a ser percorrido!
    Grande beijo amiga!
    Mariana Machitte

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