quarta-feira, 11 de abril de 2012

A Fábula do Menino Pobre

  Chamo a história que relato de fábula, não porque ela seja mentira, mas porque a fábula é uma história de encantamento e desencantamento. 

   Ouvi de primeira mão, estes dias, a história do menino que era homossexual e pobre e entrou na UFPR para cursar sociais. A sexualidade do garoto em questão, lá pelos seus 18 anos, não criou, segundo o próprio, barreiras maiores para a inserção no grupo. Mas, quando colegas seus esbarraram nele, enquanto ele trabalhava em um supermercado como repositor, tudo mudou. A barreira se construiu. Justo no curso de ciências sociais, onde boa parte de nós sonhamos com a justiça social, onde o socialismo não é démodé. 
          A fábula me lembrou de uma conhecida que estudava o racismo francês do ponto de vista etiológico. O que é isto? Uma dada pessoa racionalmente é contra o racismo. E até consegue sustentar o seu anti-racismo por mais tempo no discurso (diferente do que acontece no Brasil, onde o comum é negar o racismo e se entregar na frase seguinte). Mas o corpo dela fala diferente do que a cabeça. Em contato com algum grupo alvo de racismo, como árabes argelinos ou negros, ela se inclina, ela gesticula alteradamente. O racismo profundo e de certa forma involuntário, pois é involuntário ao menos para a razão.
           Duvido muito que racionalmente alguém do curso de ciências sociais tenha desdenhado a personagem da nossa fábula. Mas há algo como uma etiologia de classe no nosso país. Onde menos controlamos, mais queremos. Um espelho de nossas diferenças cotidianas abissais. 

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