quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Assange e a acusação de crime sexual

Anteontem, coincidência ou não, irrompeu entre mim e o André (apenas assim) uma longa discussão sobre o termo 'feminazi' no blog do Nassif. Durante a minha ausência umas tantas mulheres e alguns homens vieram ao meu socorro, outros tantos se posicionaram a favor do André, e portanto deste malfadado termo. O que pode ser conferido aqui 
Coincidência mesmo, meu namorado e eu ontem traduzimos um texto em inglês escrito por Assange poucas horas antes de sua prisão, com o intuito de divulgar no blog do Nassif as idéias desta figura que agora acompanhamos com muito interesse, e eu em particular, já que sou crítica aos abusos das grandes máquinas estatais, que não cansam de matar milhares em nome de interesses duvidosos. O texto pode ser lido aqui
Coincidência ou não, hoje vem à tona (pelo menos para meu conhecimento, e dos leitores do blog do NAssif), o conteúdo das acusações das duas mulheres suecas contra Assange. Gostaria de lembrar que, mesmo que Che Guevara, Zapatero, Lula ou insira aqui o nome que você acredita poderia ser considerado um ícone da esquerda, fosse de fato responsável por um crime contra a mulher, eu jamais hesitaria em condená-lo pelo que ele realmente fez. No caso que envolve Assange e as suecas, aparentemente a questão está sendo usada para incriminar o fundador do Wikileaks. E é com este pressuposto que escrevi o post abaixo, já que a plausível má-fé de Anna levou o termo feminazi aos top ten de novo. Em caso de Assange realmente ter feito algo errado, muda toda a constelação. Aí vai o post escrito hoje há pouco, lá, cujo original se encontra aqui.  

Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. 
Homens e mulheres de má fé há incontáveis no mundo. Homens e mulheres que trabalham para a CIA também (mais homens, diga-se de passagem), também. 
A mim parece que, se se confirma que a Anna Ardin de fato montou esta presepada por má fé, a despeito de sua auto-declaração, não pode ser jamais considerada feminista, pois agir em egoistamente em interesse próprio não é ser feminista. Ela não representa nenhuma corrente do feminismo que defende vingança ao gênero masculino por meio de falsas acusações sexuais. Aquilo pelo que as feministas mais lutam é que os milhares de abusos reais sofridos por mulheres sejam levados a sério. Nada seria mais contra-produtivo. 
As referidas leis suecas (não se poderia transar com duas mulheres na mesma semana), se existem mesmo, definitivamente não estão ancoradas em pressupostos feministas, mas antes possivelmente em pressupostos puritanos. Entre em qualquer comunidade feminista do orkut e peça para que as mulheres delas julguem esta lei. Todas dirão em coro: absurda, risível (as lésbicas e bi ficarão tanto mais atordoadas por não poderem transar com duas moças na mesma semana). 
Nunca é demais pedir que prevaleça o bom senso. Parece haver um círculo de homens (e algumas mulheres também) que está à espreita para bradar "feminazi" ao menor deslize que uma mulher cometa em nome do feminismo. É esperto de criminosos corriqueiros correr atrás de uma bandeira popular como salvaguarda, e definitivamente não é a primeira vez que isto aconteceria. Mas isto invalidaria a luta pelo fim do apartheid? pelos direitos civis? pela independência da Índia? Não, este fenômeno não 'nazicifica' o movimento. 
Digo mais: se é fato que a moça trabalha para a CIA, e que não houve entre ela e Assange nada além de intercurso consentido, então me parece engenhoso por na boca dela que ela seria "feminista" (ou escolher alguém com este perfil para cooptar). 
Matam-se assim dois coelhos com uma cajadada. O Assange e a reputação do movimento feminista. Como se estes dois termos fossem opostos, como se não pudesse defendê-los ao mesmo tempo. É a velha tática de dividir e confundir para dominar. O feminismo pertence ao espetro progressita/ de esquerda e este espectro não faz sentido sem o feminismo (não passaria de pura hipocrisia). E a CIA quer a esquerda e o progressismo fragmentados. Quer que movimentos sociais sejam tomados por terroristas. E movimentos feministas tomados por nazistas. 
O termo 'feminazi' tem como único intuito de confundir e dividir. Jamais nos esqueçamos disto. 

7 comentários:

  1. Meu deus, Barbara! Não tinha visto o post ridículo desse André que o Nassif publicou no seu blog! Vou escrever sobre isso. Parabéns pela sua persistência em tentar argumentar com um neandertal, mas acho que vc foi paciente demais. Sobre o Assange, e a denúncia contra ele, acho que não vou poder escapar de escrever sobre isso também... Mas me diga, porque eu devo ter perdido alguma notícia: Anna Ardin é feminista? Vi links que Cuba a considera espiã da CIA. Mas não vi nada sobre feminismo.

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  2. Barba,

    ótimo post.

    Essa acusação, aparentemente feita de má fé, ao Assange me parece servir a vários despropósitos.

    Transformar o cara num violentador serve ao propósito de acabar com a reputação do inimigo. Quem vai se referenciar num estuprador?

    E o efeito colateral é que ao se desmontar a acusação e desmoralizar as acusadores, há o risco do generalismo de desqualificar todas as vítimas de abuso sexual. Especialmente aquelas que são vítimas de conhecidos.

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  3. Lola, a minha paciência não é especialmente dedicada ao André, mas acho absurdo que um veículo dito progressista sirva de palco para a divulgação deste preconceito de quinta. É pelo espaço que escrevo.

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  4. Adorei seu post, Barbara! Muito bom saber que você tem blog, e não é só comentarista no Nassif. Essa onda conservadora atingindo inclusive "progressistas" está péssima... :-(

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  5. E esqueci de dizer: quando escrevi o post sobre feminazi, enviei para o Nassif publicar. Pelo que acompanhei até agora, ele não publicou...

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  6. Excelente texto Barbara...Como o Nassif pode publicar uma coisa dessas? Quer dizer que ele "share the same opinions"? To comecando a ver mesmo que ser homem progressista e ser machista infelizmente ainda podem andar de mao dadas...Bj, Fernanda

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  7. Parabéns Bárbara!
    Nem sabia dessa confusão, é lamentável =/
    E como a Cynthia disse, é dupla a falta de embasamento: Histórico e Feminista.

    Adoro o Memórias da Transgressão que ela citou ^_^

    Não há direitos humanos sem mulheres, negar a luta feminista é negar o empoderamento de quem é massacrada cotidianamente, infelizmente até mesmo quem carrega bandeiras "libertárias" escolhe a bel prazer quando lhe convém defender as mulheres.

    Um abraço
    =*****

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