Nassif e o último episódio em balanço
Aproveitando a proximidade de uma postagem minha, questionando as fotos de imagens "sensuais" femininas no blogue do Nassif, quero fazer um apanhado do que considero a respeito do que se passa e se passou.
Primeiramente, longe de ser uma inimiga de tal blogue, eu o visito com frequência, e ele até é minha fonte primeira de informações, dado que eu mais dificilmente visito páginas de jornais ou revistas. Considero as opiniões do Luís Nassif argutas em várias áreas, das quais se destacam política, economia e jornalismo. Compartilhamos algumas preocupações, como por exemplo a desindustrialização do Brasil, a guerra cambial entre os países, o combate ao complexo de vira-latas que muitos brasileiros ainda tem (porém graças a deus cada vez menos), o monitoramento de nossa elite política, entre outros. Seriam muitos pontos afins para listar. E é por isso que eu ando por lá, e não no blogue do Noblat, por exemplo.
Pedras no sapato
Porém eu observo que há duas pedras no sapato de um Nassif progressista e articulado. Uma delas diz respeito às matérias sobre o Oriente Médio. Sob um pretenso manto de discursos esquerdistas sempre acabam-se destilando comentários antissemitas. Há o botão "denunciar", que infelizmente, parece que somente eu uso nestes casos. Em relação a este tópico eu esperaria do Nassif uma posição mais enérgica no sentido de deixar claro que o blogue dele não pode ser um espaço para discursos de ódio quaisquer.
A segunda pedra no sapato diz respeito ao tratamento dado às mulheres, e em especial às feministas. Houve o episódio da "feminazi", do qual eu participei ativamente, inclusive aqui no blogue, denunciando que o Nassif "subiu", ou seja, colocou como tópico, um comentário de um certo André Araújo, que não diz coisa com coisa e que evocou o malfadado termo para designar as feministas. Isto foi feio da parte do Nassif. Este termo é marcadamente usado com o único e exclusivo fim de desqualificar a luta contra o machismo e as autoras desta luta.
Como seria se o Nassif tivesse subido um comentário apologético à "ditadura gay", aos "negros nazistas" ou coisa semelhante? Chegamos aqui a um traço triste e recorrente de nossa sociedade. O fato de a luta de mulheres por igualdade de oportunidade, tratamento público e privado igual ao dos homens, luta por nossa dignidade, ter menos reconhecimento público e ser menos relevante, quer porque não se vê a opressão, quer porque se a julga legítima.
No entanto, há dois dias, o Nassif subiu uma postagem minha, que é a imediatamente anterior à presente neste blogue. Houve quem dissesse que eu trabalhava com a hipótese de que ele não seria "subido", mas ele foi. Francamente, eu contava com uma boa chance para que ele fosse subido, como foi. Ponto para o Nassif, que pelo menos também passou a dar voz ao outro lado, o nosso. Espero que o episódio "feminazi" e congêneres não venham a se repetir. O Nassif, talvez mais do que ninguém, sabe ou deveria saber que não é ingênuo o que se expõe para ser notado, o que se grifa, o que se promove.
Nus masculinos são o cerne da questão?
Um detalhe do último caso se mostrou relevante. O Nassif publicou minhas fotos de ensaios sensuais de homens, porém sem minha legenda, que dizia algo como "para exercitar o olhar". Ou seja, sem a legenda, parece que eu só me importo que fotos de homens nus sejam publicadas, numa espécie de "guerrinha entre sexos". Não é o caso. O caso é o exercício do olhar. É nos perguntarmos porque em várias mídias, e em especial aquelas que o Nassif condena, exploram tanto o corpo da mulher, como acontece na página de citações de celebridade da VEJA, onde há invariavelmente fotos de mulheres seminuas comentando algo sobre sua sexualidade. Já chamei várias vezes a atenção pra a elegância com que a Carta Capital administra estes assuntos. Neste ponto tenho uma admiração inversamente proporcional do Mino do que eu tenho do Nassif.
Além do mais, o Nassif resolveu dar o nome "os nus masculinos" ao meu comentário, o que mais uma vez mostra que ele "missed the point", equivocou-se quanto ao cerne da questão. Os nus masculinos eram parte da reflexão, mas não constituíam o cerne da questão de por que a esfera pública tem ares de vestiário masculino, e por meio de muitos mecanismos sugere sempre às mulheres que elas não são bem vindas.
Balanço geral
Como o Nassif, e provavelmente bastante induzido pela leitura dele, a maioria dos comentadores "missed the point". Isto é o esperado da nossa sociedade atual, mesmo que, lamentavelmente, também em blogues progressistas. Há, no entanto, uma aceitação e suporte das ideias por mim definidas, como se diz em alemão "klein aber fein", um grupo pequeno ,porém bacanérrimo. Não podemos nos calar e não vamos nos ausentar de espaços, nós, mulheres, gays, judeus e outros, porque subliminarmente, ou mais explicitamente, não somos bem-vindos por tantos.